sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

[Coluna] Na Padaria da esquina – Um conto de Natal

Foi mais ou menos nessa mesma época, há sete anos atrás, que reencontrei o skate e o recoloquei definitivamente na minha vida. Foi durante uma manhã de um domingo preguiçoso, tomando café na padaria da esquina. Naquele local aonde os caras de cabelos brancos sentam, tomam café, resmungam sobre política e o futebol do nosso país foliando seus jornais. Apesar dos cabelos, eu não era um deles. 

Para minha surpresa e sem ao menos saber, aquela manhã mudaria definitivamente a forma como veria a arquitetura urbana, seja uma calçada, banco, ladeira ou uma simples rua. O acaso e o destino marcaram de se encontrar justamente ali entre o pão quentinho e a espera do troco do caixa. 




Depois de anos morando fora da cidade, meu velho amigo “marinheiro” Klaus estava de volta. Foi naquela padaria que o reencontrei com seu longboard nas mãos. Depois de nos atualizarmos no tempo e espaço, ele com uma das mãos ocupadas com sacolas e a outra com seu skate estava pronto para seguir em frente. Nos despedimos, as rodas bateram no asfalto, em seguida remou e foi cortando a rua deslizando suave como quem passa manteiga sobre o pão. 

Lembro que meus olhos o acompanharam até aonde minha miopia permitiu. Aquele som das rodas e rolamentos soaram como música nos meus ouvidos. Naquele momento tive a nítida sensação, algo estava faltando na minha vida, era aquilo, tudo aquilo que não enxerguei naquele dia. Passadas vinte e quatro horas Klaus recebeu minha ligação perguntando sobre aquele “bilhete premiado”, foi quando para minha sorte ele disse: “Tenho dois, pega um e veja se você gosta, vou te dar umas dicas e te enviar uns vídeos, daí se gostar você compra um pra você depois”. 




Minha relação com o skate foi reconstruída com bases sólidas naquele dia. Apesar do tempo que disponho ao skate ser curto nos dias de hoje, meus pensamentos são constantes e grandiosos sobre ele. 

Com o passar do tempo essa relação de amor reconstruída foi tendo seus desdobramentos. Não consegui evitar suas garras e ficar fora do seu caminho. Fui atacado e pego de forma desprevenida. Surgiram assim o blog, o facebook, o instagram, twitter e o convite da revista CRVIS3R Skateboarding para ser colunista e colaborador. Tudo acabou por se tornar um pedaço deste amor. 

Já se vão quase oito anos e parece que foi ontem. Neste tempo vi muitos abandonando e muitos encontrando o skate, eu continuei firme segurando sua mão, ou seja, suas rodas. Acabei por construir uma relação de continuidade, porém sem regras. 

Fazendo uma análise da minha trajetória sinto falta de poder estar mais tempo com o skate sob os pés. Fato que vem transformando esta relação. Resultando, tenho que me esforçar mais quando subo na madeira para realizar com o corpo o que a cabeça pede. Esforço sem suor e resultado sem esforço não cabem neste mundo. 



Aprendi nestes anos que sem humildade e coragem não conseguiria construir essa relação de amor e dedicação ao longboard. Estas quatro palavras, humildade, coragem, amor e dedicação são exigidas em escalas enormes e contínuas. Confesso que muitas vezes veio o desejo de parar com tudo, mas foram pensamentos que se dissolveram à medida que prossegui. 

O ano de 2014 está chegando ao seu fim, temos o 2015 descendo a ladeira pedindo passagem. Um dos meus objetivos é retardar a ampulheta e conseguir mais tempo para me divertir com meus “brinquedos” junto com meus amigos. 

Quem sabe a gente se encontra na padaria da esquina e toma um café antes de partir para o role? Será por minha conta, prometo! 

Desejo para todos vocês que 2015 venha cheio de possibilidades e que a persistência traga sucesso para todos nós que temos o skate no coração. Um ótimo Natal para todos e um 2015 de muito asfalto liso! 




PAZ, AMOR, SKATE.