terça-feira, 8 de julho de 2014

[Coluna] Classe A Skateboards

A fauna que habita o asfalto alcançou níveis incríveis. A gatinha, o feião, o jovem, o velho. Todo mundo aderiu ao longboard que cresceu assustadoramente, perdendo apenas para o ato de caminhar ou correr. Fora isso, o longboard surpreende, tanto que causa regras e horários para sua pratica em vários locais.

Mas na verdade, um olhar mais próximo revela que nem todo mundo está andando de skate. Anda quem pode, não quem quer. Com um preço salgado e a falta de grandes marcas brasileiras que unam preço e qualidade em todo o setup, fica difícil adquirir um skate da hora e todos terminam desejando um equipamento importado carregado de altas taxas e impostos.



Estamos vendo uma demonstração de força das classes mais abastadas que dominam o longboard pelo asfalto. Assim como o sol, o skate é para todos, mas se mostra não muito democrático, e até darwinista nos preços. Nada contra. Quem quiser, pode ficar à vontade para comprar um skate da BMW, da Luis Vuilton. Não ligo, e agradeço de antemão pelas risadas que darei. 


Baseando-se no salário mínimo brasileiro, R$ 724,00, o preço de um longboard importado em média sai por R$ 1.100,00, tentar comprar um skate é uma meta difícil para quem não ganha mais que o mínimo, haja crediário! Isso se reflete nas ruas e ladeiras. E isso é só o skate. Se formos falar de proteção, como macacão para downhill, os preços começam em R$ 650,00 para os nacionais. Temos mais capacete, luvas, joelheiras, etc. 

Um atleta amigo de SP, que é destaque no cenário nacional e que já saiu várias vezes aqui na revista, nos relatou uma estória emblemática da situação: seu “patrocinador” reclamou com o atleta o fato de que este gastava muitos calçados de skate. O Atleta retrucou que anda e treina intensamente e que infelizmente os calçados não estavam durando. O “patrocinador” pediu para que o atleta tomasse mais cuidado pois desta forma não iriam dar conta de atende-lo.

Putz… olha a visão: primeiramente, criam um produto voltado para um esporte radical que exige muito dos equipamentos. Se em muitos casos o freio é o calçado, este não deveria durar? Em seguida vemos que o atleta que passa o dia inteiro pingando de suor para poder atingir um nível ideal no esporte é puxado para trás pela entidade que deveria dar todo o apoio para que sua imagem/marca cresça junto com o atleta. 

Olhe-se no espelho, veja sua carteira de identidade. Você não se parece com um atleta gringo? Parece que aqui no 3º mundo, a visão de uma corporação sobre você não é nada boa. Geralmente você é aquela vaca malhada na estrada. Mais uma no meio de centenas que com certeza precisam de patrocínio de marcas e produtos para alcançar a meta de ser um profissional do skate.


Esporte de rico? Sim, parece que está se tornando isso sim. Um esporte que possibilita usar cada cantinho das cidades, mas que se torna mais um sonho exposto na vitrine bem iluminada.

A solução pode ser voltar aos anos 80, quando não haver material disponível era um fato e entrava em cena algumas das grandes facetas do povo brasileiro; a adaptação e a inventividade. Aqui todos tiveram skates ruins como mal se pode imaginar hoje em dia, mas que davam um prazer imenso ao serem feitos e aperfeiçoados.


Eram compensados e patins. Eram solados de chinelos havaianas para gastar menos os compensados no tail e usar como freios (!!!). Esqueçam pads para as bundas; as quedas eram atenuadas com almofadas. Enfim, era romântica que não volta mais… ou volta? 

Não adianta ser ingênuo e pensar que um boicote funcionaria. Nada mais longe da verdade. Mas talvez haja skaters com habilidade e boa vontade para ensinar um garoto como fazer seus primeiros skates com o que há disponível. Há sempre a esperança de que o skate prevalecerá e evoluirá apesar dessas dificuldades.

Lembrem-se, um grande skater não se faz apenas com um bom setup, é preciso mais, mais vontade, alma e coração para se garantir o maior sorriso. Portanto não ligue nem se sinta diminuído se olhar para o lado e ver uma nave na mão do seu amigo. O skate está no pé, na alma, no coração e não somente no bolso.