quarta-feira, 20 de agosto de 2014

[Coluna] Até que meus ossos quebrem

Dentre várias publicações que lemos a respeito de skate uma coluna muito interessante do site http://www.blackmediaskate.com/ chamou atenção de todos no euamolongboard.com. O texto em questão falava da longevidade no skate. A matéria é um bate-papo com o Danny Way, que tem 40 anos. Um a menos que Klaus, e um a mais que eu, Alexandre. As semelhanças entre nós são a idade e a paixão pelo skate. Ele nunca parou de andar e mantém o corpo preparado para as insalubridades do esporte. Ioga, alimentação, acompanhamento psicológico…enfim, tudo o que um profissional de alto nível tem direito. 

Estamos longe disso e não temos a pretensão de sermos pro, no entanto, queremos ter o mesmo condicionamento físico, as manobras no pé e a uma rápida recuperação das lesões. Esqueça! A idade complica tudo isso. Aparentemente excetuando-se (Danny Way, Hosoi, Rodney Mullen, etc), todo o resto dos mortais tem suas capacidades diminuídas com o avanço da idade. Dentre várias razões, podemos citar as responsabilidades da vida adulta, que impedem que tenhamos a mesma disponibilidade para nossas paixões como mantínhamos na juventude. Disso temos saudade. Como a chance de ganhar dinheiro com skate é mínima, aqueles que apenas andam bem precisam procurar sustento, afinal, comemos, moramos e pagamos contas. Se cada flip, slide ou footwork valesse 100 dólares, todo mundo andaria pulando, deslizando e dançando por aí. Mas como essa não é a realidade, é na labuta que a gente vence. 



Alexandre (EU) está na sua primeira experiência como pai, enquanto Klaus já acumula algumas milhas com os três filhos. Digamos que devido às responsabilidades de cada um, sobra a parte da noite para cuidarmos das crias. Pronto; acabou o tempo para o skate, que começa a se limitar aos fins de semana.

Não há set de manobras que dure e a preguiça começa a bater com cada vez mais frequência. É difícil se dedicar as paixões depois de certa idade, a não ser que este seja seu trabalho, seu ganha pão. É aí que as coisas pegam, pois, a pressão se sobrepõe a paixão colocando em primeiro plano obrigação e responsabilidade. O prazer morre? Não ele eventualmente muda de endereço, tem um tempo reduzido, mas intenso. O que nós, caras mais “experientes” acabamos fazendo é sermos mais seletivos com o nosso tempo dedicado ao skate.

Nada mal acordar todos os dias e andar no bowl, ter um asfalto liso e livre para o dancing e freestyle ou uma ladeira para o freeride e downhill? Nossa vontade continua sendo beber de todas as fontes do skate, aproveitando tudo o que a história nos trouxe e que hoje nos mostra um skate maduro, overall e tecnologicamente alinhado com as várias modalidades e possibilidades. Este é um momento único e histórico na era do skate, ele está para todos e para todos os lugares. Queremos aproveitar!



Relembrando um pouco essa jornada, ainda bem que nos anos 70 o skate foi expulso dos grandes parques privados americanos (alto valor para seguro, preço dos terrenos, etc foram os principais motivos da derrocada), tendo que achar seu lugar em qualquer canto possível. Vem então o street, e a evolução do donwhill. Graças à este e outros motivos o desenvolvimento do esporte ficou mais fácil, rápido e world wide. Em qualquer lugar do mundo, em qualquer hora do dia, ninguém mais dependia de um skate parque para andar. Qualquer lugar servia e qualquer hora virou hora. Sabe o que isso significa? Inúmeras oportunidades bem como talentos que antes não teriam a menor chance de aparecer para o mundo, hoje podem se desenvolver em uma ou várias destas modalidades. Resumindo essa parte, não só sobrevivemos as mudanças como ainda conseguimos evoluir através delas. O que parecia inicialmente ser o fim, tornou-se um recomeço.

Esses parágrafos serviram para exemplificar o quanto é difícil se manter ativo no esporte ao longo dos anos. Mais difícil ainda é voltar a praticar. Primeiramente sua esposa pergunta se está com saudade de ser criança novamente. Apesar dessa ser a razão principal, nunca admitimos, então a desculpa é perder aquela barriga e voltar a ter um pouquinho de saúde. Passadas as dores de qualquer recomeço, a vontade de ficar em cima do skate aumenta. Você volta a conhecer o pessoal do pico, reaprende os nomes das manobras e aquele moleque de dezessete, dezoito anos te passa umas dicas muito importantes sobre como fazer aquela manobra que você tá tentando tirar tem 1 mês. 

Ou seja, você volta se sentir parte de algo tão importante como o skate. Vai explicar pra esposa por que vale a pena ficar com cara de maloqueiro na praça? Por que é bom chegar em casa com a camisa fedendo depois de uma longa session? A verdade é que esse convívio com a cena oxigena nosso cérebro, expande as nossas conexões e satisfaz uma necessidade de ser jovem na cabeça. Renovação de coração, espírito e alma.



Cada ralado e machucado que tivemos no skate, faz do esporte nossa propriedade, um estilo de vida. Assim também é propriedade de todos que suam para manter o skate forte. Mas no que se refere à idade, é fato inegável e inevitável, todos ficamos velhos e isso faz parte da evolução e da consciência de que devemos aproveitar cada segundo que temos quando estamos sobre o carrinho ou o carrão. 

O Sr. Victor E., 58 anos de skate e funcionário orgulhoso da Sector 9, talvez tenha a frase emblemática dessa coluna; ele disse que “voltou a andar de skate para poder se sentir mais jovem, como os caras que ele via andando pelas ruas. O skate virou sua máquina do tempo”.

Em tempo relembro a frase proferida por Jay Adams que recentemente nos deixou: "Você não para de andar de skate porque fica velho. Você fica velho porque para de andar de skate."

- Esta Coluna foi escrita por Alexandre Guerra e Klaus Duus -