terça-feira, 21 de junho de 2011

A HISTÓRIA DAS REVISTAS DE SKATE NO BRASIL

Esta matéria saiu originalmente na revista CemporcentoSKATE, edição 132/01 e consegui através do site overmundo. O texto fala sobre os altos e baixos do skate no Brasil. Muitos já conhecem essas histórias que também foram contadas no documentário Vida Sobre Rodas. É sempre bom conhecer, ou relembrar estas linhas da história do skate para que as coisas boas continuem e as ruins não voltem a acontecer.



O início da prática do skate no Brasil ocorreu durante a década de 1960, época bastante conflituosa de nossa história, pois compreende um período marcado pelos anos iniciais da Ditadura Militar no país (1964-1985). Segundo o pesquisador Tony Honorato, “há rumores do surgimento do skate no Rio de Janeiro em 1964, mas como nada foi documentado torna-se difícil apontar o ano de forma precisa”. 

A década de 1960 foi um período agitado tanto política quanto culturalmente, pois registra uma das ascensões mais interessantes dos últimos tempos: a de uma cultura ou contracultura jovem. Embora existissem skatistas na década de 1960 (Cesinha Chaves relata que começou a andar de skate em 1968), foi somente na década de 1970 que o skate começou a aparecer em revistas especializadas. Esta matéria, portanto, tem como objetivo traçar um painel dessas publicações, contando um pouco a história das principais revistas de skate no país.

AS PIONEIRAS

Antes de surgirem revistas específicas sobre skate, a editora Abril já apostava na existência de uma cultura jovem no país. Assim, em 1972 surgiu a primeira revista voltada para a juventude brasileira, notoriamente tendo o rock como assunto principal. A Revista POP teve 82 edições em seus quase sete anos de existência, entre novembro de 1972 e agosto de 1979. O interessante é notar que essa revista trouxe o skate como um tema de destaque em diversas edições, chamando a atenção para campeonatos e skatistas de destaque na época, como Jun Hashimoto, Kao Tai, Marcelinho e Luis Roberto Rodrigues de Moraes (o “Formiga Atômica”).

No entanto, a primeira revista específica sobre Skate que surgiu no Brasil foi a Revista Esqueite, que teve apenas duas edições (a primeira de setembro de 1977 e a segunda de outubro/novembro de 1977). Hoje essa revista é considerada uma relíquia no país, item de colecionador. Apesar do expediente da Esqueite trazer Waldemiro Barbosa da Silva como diretor responsável, a cabeça pensante (e atuante) era na verdade Sérgio Moniz. O mesmo Moniz que, pouco tempo depois, lançou o Jornal do Skate, publicação editada no Rio de Janeiro entre 1978 e 1979 (posteriormente, na década de 1980, o Jornal do Skate foi reeditado em forma de Zine, em formato "micro", entre os anos de 1985 e 1986).

Em 1978 surgiu a segunda revista específica sobre skate no Brasil, a BRASIL SKATE, que em três edições cumpriu um papel importante no período, por atuar como uma das pioneiras na divulgação do skate no país. Segundo Cesinha Chaves, editor adjunto da BRASIL SKATE, o objetivo era “mostrar a nova onda concreta... O skate que começou como uma extensão do surf e estava ganhando independência, caminhando numa nova direção com pistas de skate, campeonatos e uma cultura própria”. A qualidade gráfica dessa revista, os textos e as boas imagens que trazia – inclusive com manobras em sequência – fizeram da BRASIL SKATE uma referência obrigatória para se compreender o skate vivido nos anos finais da década de 1970.

POPULARIZAÇÃO DO SKATE

Diferentemente da década anterior, os anos 1980 foram marcados por uma maior quantidade de revistas existentes no mercado editorial brasileiro, em função da crescente popularização do skate, principalmente na segunda metade da década. Em 1985 surgiu, pela Brasil Repórter Editora, a revista Overall, que em sua edição de número zero exibia na capa o skatista Álvaro “Porquê” – fazendo jus ao título de Overall, uma vez que o Porquê mandava ver tanto no vertical quanto no street. Na edição número dois a Overall passou a ser publicada pela Trip Editora.

A Overall e a Skatin’, que surgiu em 1988 pela editora Azul, foram as duas publicações mais influentes do período. No ano de 1986, talvez como um reflexo da cultura punk que ficava cada vez mais forte em São Paulo, surgiu a revista Yeah!, dotada de um visual mais underground, com muitos desenhos e dicas de bandas de rock e punk rock.

Além dessas publicações, a década de 1980 contou também com revistas de menor circulação, mas não menos importantes enquanto documentos que registram uma época. Entre os anos de 1988 e 1990, circulou a revista SKT NEWS, na verdade mais um fanzine sobre skate, de menor tamanho e distribuição gratuita. Para completar o quadro, não podemos nos esquecer da revista VITAL SKATE, cujo editor era Itagyba de Oliveira. A Vital Skate nasceu como uma edição especial da revista de saúde Vital. Ainda nos anos 1980, vale destacar também o álbum de figurinhas Overall Skate Stamps, que circulou em 1987 e foi responsável pelo primeiro contato de toda uma geração com o skate.

QUEDA E RENASCIMENTO

Uma bomba marcou o começo dos anos noventa para o Skate brasileiro: o fatídico Plano Collor. Com as poupanças bloqueadas, inflação galopante e corte de gastos, é óbvio que o emergente mercado nacional de Skate pagou o pato. A Yeah! já havia se despedido, e entramos na década com dois títulos apenas: a Overall, que resistiu até Maio de 1991, quando lançou uma edição tapa-buraco (Skate Pôster), e a Skatin’, cuja última edição é de Setembro de 1990. O informativo SKT NEWS circulou até a edição 19, de set/out de 1990.

Mas não foi só a crise brasileira que marcou esse início de década. A revolução do shape double deck, das rodas torneadas e das manobras técnicas, bateu de frente com uma geração de skatistas, comportamentos e marcas bem estabelecidas, que não acharam graça nenhuma em ceder seu reinado (vide a famosa briga de anúncios entre Powell Peralta e Blind). O Skate mergulhou, mais uma vez, na chamada fase underground. E o Brasil foi junto, é claro.

Depois de um hiato de alguns meses sem nenhuma publicação de skate no país, a Tribo Skate deu as caras em setembro de 1991, com Marcelo Just na capa. A revista de 28 páginas agrupou remanescentes de todos os títulos dos anos oitenta, Overall, Yeah!, Skatin’, Skt News e Vital Skate. Por falar em Vital, ela ressurgiu no início da década, não mais como edição especial da revista de Saúde, mas ainda pela mesma Editora Ondas. O nome passou a ser VS (Vital Skate Magazine) e foram lançadas apenas duas edições, uma em 1991 e outra em 1993.

Em 1994 surge a revista One Street Magazine, capitaneada por Diorandi Nagao. Teve vida breve: apenas duas edições foram lançadas. Em agosto de 1995, o então skatista profissional Alexandre Vianna publica a primeira edição da 100% Skate Magazine, na verdade um zine preto e branco com oito páginas e Bob na capa. Era o começo de uma história de conceito, credibilidade e longevidade.

Na segunda metade da década, as coisas começaram a melhorar para o mercado de Skate brasileiro, e isso refletiu na qualidade das revistas. As revistas aumentaram o número de páginas, melhoraram o papel e abandonaram as páginas em duas cores, fazendo publicações coloridas e com mais anunciantes. Como prova do fortalecimento do
mercado, até o Nordeste (região carente de investimentos no Skate) ganha sua legítima representante com o lançamento da Method Skate Magazine, revista editada por Robson Pinheiro à partir de 1997.

DÉCADA DA FARTURA

Antes de abordarmos as revistas surgidas à partir do ano 2000, vale lembrar que a intenção é pontuar as revistas mais importantes do mercado, com circulação nacional, periodicidade bem definida, etc. Não foi possível citar cada zine lançado, ou cada revista regional de vida curta, apesar de sabermos de sua importância local.

Inaugurando a década, surge a Rio Skate Mag. Foram 14 edições da revista carioca, entre 2000 e 2004, tendo a dupla Adriano Salgado e Dhani Borges no comando. Ainda em 2000, mais precisamente em maio, Ramon Oliveira lança a 40 Polegadas, revista dedicada ao Longboard e suas vertentes. Dez edições foram publicadas no formato impresso, e em 2003 passou a ser uma revista eletrônica. Outra contribuição carioca para o mercado editorial foi a revista SK&B (Skate&Bordas Magazine), cujo debut data de janeiro de 2001. Era um projeto do skatista, jornalista e punk rocker Jorge Luiz Souza, o Tatu. Sua morte, em 2005, decretou o fim da revista.

O ano de 2004 presenciou o nascimento de várias revistas de skate: Skate Jam, Vista, SKT, Switch, Pense Skate e Ôxe. A quantidade impressiona, mas apenas Vista e SKT tiveram distribuição em todo território nacional. A Vista Skateboard Art, de Porto Alegre, trouxe Rômulo Geléia na capa da edição número 01. Em São Paulo, a dupla Walter Garrote e Charles Franco criou a revista Skate Jam, que ficou apenas no primeiro número (Mineirinho na capa). A Pense Skate, do Rio de Janeiro, foi lançada em março, com um formato um pouco menor, e hoje em dia existe apenas na Internet. Para suprir a carência deixada pelo fim da Method em 2003, Júlio Detefon criou a mini-revista Ôxe, veículo voltado ao mercado nordestino. O interior de São Paulo também ganhou sua revista, com o surgimento da Switch, em setembro, cujo Diretor Geral é Cássio Ferrer. E em novembro a SKT alcançou as bancas de todo o país, publicada pela Editora Peixes e tendo como editor chefe Vinicius Albuquerque.

Assim, entre 2004 e 2008, tivemos quatro revistas de circulação nacional especializadas em skate: CemporcentoSKATE, Tribo, SKT e Vista. Além delas, as revistas de circulação local/regional, os inúmeros zines e sites, formando um panorama abrangente e significativo. Um marco para o Skate brasileiro, fruto do crescimento, profissionalização e estrutura do meio.

UMA NOVA FASE

Janeiro de 2009. É anunciada a fusão da CemporcentoSKATE e SKT, além da criação da Editora ZY, pelo Publisher Angelo Rossi em parceria com Alexandre Vianna e Vinicius Albuquerque. Segundo Alexandre Vianna, "o mercado e o esporte precisam de um produto editorial de melhor qualidade e circulação, um título que busque credibilidade para colocar o Brasil no mapa internacional das melhores revistas de skate do mundo". Somando forças e os pontos fortes de ambas publicações, nasce uma nova proposta, ciente da sua responsabilidade com o Skate nacional e, ao mesmo tempo, sedenta por mostrar serviço. O nome se mantém CemporcentoSKATE, mas com a união das duas equipes e uma reformulação editorial para uma nova era. 

Abs,
Alex.